A fotografia acima foi registrada no palco do TBC, em São Paulo, durante a primeira montagem de "O Pagador de Promessas" (em primeiro plano, o ator Leonardo Vilar e Natália Timberg). Bem ao fundo, desfocado, procure Mestre Ananias entre os capoeiras vestidos de branco!
No palco do TBC - Teatro Brasileiro de Comédia, em 29 de julho de 1960, a primeira encenação de "O Pagador de Promessas" teve Ananias Ferreira como um dos protagonistas.
Texto: Carlos Primo Vaz
No enredo de "O Pagador de Promessas", o camponês Zé do Burro caminha 7 léguas com uma pesada cruz até a Igreja de Santa Bárbara (em Salvador) para pagar uma promessa atendida. Ela fora feita à santa num terreiro de candomblé, em frente à imagem de Iansã, pedindo a cura de Nicolau (o burro que lhe dá a alcunha).
Na paróquia, Zé é impedido de depositar sua cruz dentro da igreja por Padre Olavo, que imagina preservar-se dessa forma da "adoração de falsos ídolos pagãos".
A história se passa no ciclo de um dia, tendo a fachada da igreja como cenário. Neste curto espaço de tempo, Zé enfrenta uma sucessão de obstáculos e não esmorece. Ele tem o apoio da população negra, devotada ao candomblé, que neste dia festeja a Iansã num cortejo até as escadarias da igreja.
Quem lhe dá a retaguarda são os capoeiras, que apóiam Zé por terem visto nas manchetes de jornais o registro da extenuante caminhada que empreendeu, e o distorcido anúncio que o tratava como o "novo Messias", que pregava a reforma agrária. Isso porque o apreço de Zé pelo burro também o fizera prometer à santa que, caso ela curasse Nicolau, ele também dividiria suas terras com pessoas menos afortunadas.
Na realidade do obstinado Zé do Burro (com sua posição inflexível no acerto com a santa), as instituições da sociedade se apresentam numa imensa caricatura, em fatos que se desenrolam de maneira dramática e trágica.
"O Pagador de Promessas" foi lançado em livro em 1959, pelo dramaturgo baiano Dias Gomes, que também concebeu o realismo fantástico de Odorico Paraguaçu em "O Bem Amado". Dias Gomes é um dos maiores nomes do teatro brasileiro.
No dia da estréia da peça, em sua primeira encenação no TBC (na rua Major Diogo, bairro do Bixiga), em 29 de julho de 1960, Mestre Ananias Ferreira teve ao seu lado Leonardo Vilar, Natália Timberg, Cleyde Yaconis e Stênio Garcia, entre outros. A direção da peça coube a Flávio Rangel, que nesta época era o responsável pela companhia teatral do TBC.
A capoeira foi representada também por Assis, Vicente, Félix, João e Jorge.
Foi assistindo à peça que o cineasta Anselmo Duarte decidiu filmá-la, o que resultou na sua consagração em 1962, com a Palma de Ouro no Festival de Cannes (até hoje apenas esta história de nossa dramaturgia alcançou este cobiçado prêmio).
Apesar de não ter ido à Bahia para a filmagem da história, Mestre Ananias relata ter participado da sonorização do filme, feita em São Paulo. Na tela do cinema, quem aparece é Mestre Canjiquinha, conterrâneo e mestre de Ananias.
Apesar de não ter ido à Bahia para a filmagem da história, Mestre Ananias relata ter participado da sonorização do filme, feita em São Paulo. Na tela do cinema, quem aparece é Mestre Canjiquinha, conterrâneo e mestre de Ananias.
Mais uma vez, muita saúde para o nosso Mestre!
Acompanhe o blog de Mestre Ananias e fique por dentro da história deste grande nome da capoeira do nosso Brasil! Aqui em breve, mais relatos de "O Pagador de Promessas".
Fotografia 2: Brígida Rodrigues
Acompanhe o blog de Mestre Ananias e fique por dentro da história deste grande nome da capoeira do nosso Brasil! Aqui em breve, mais relatos de "O Pagador de Promessas".
Fotografia 2: Brígida Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário